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domingo, 3 de junho de 2012

Vida de Servo - Romanos 12


Vida de Servo - Romanos 12
O Apóstolo Paulo, nesta carta aos Romanos, como costuma fazer em alguns de seus escritos, apresenta primeiro uma parte doutrinária – a colocação dos fundamentos da fé - após passa à uma parte prática – expressões da vida cristã. A doutrina gera a prática. A prática é fruto da doutrina ministrada. No capítulo 12 se inicia a parte prática da carta que contém três significativos assuntos: a conduta pessoal do cristão, a atitude do cristão diante dos não cristãos e o convívio entre os cristãos. Queremos, entretanto, fazer algumas reflexões sobre o conteúdo dos dois primeiros versículos desse capítulo.
É impressionante como Paulo pode, em apenas dois versículos, concentrar tantos ensinos. Ele inicia o capítulo com um verbo apelativo: rogar. Esse termo nos faz sentir que havia um grande anseio no coração de Paulo em transmitir, àqueles que designa como: “chamados para serdes de Jesus Cristo” (Romanos 1.6), princípios importantes para a vida cristã vitoriosa.  Paulo sabia, muito bem, que os discípulos que compunham a comunidade em Roma, viviam em uma sociedade tremendamente pecaminosa e, agora, convertidos à fé cristã, nela deveriam viver, integralmente, como novas criaturas em Cristo Jesus.
O mesmo acontece conosco hoje. Nós, discípulos do Senhor Jesus, vivemos, também, em uma sociedade corrupta e é nela que devemos testemunhar a vida cristã autêntica. A ciência e outros aspectos da sociedade humana evoluíram, enquanto a vida moral, a ética e a conduta continuam sob as mesmas falhas, erros, pecados e maldades de todas as épocas anteriores. É nessa sociedade impiedosa que, como cristãos, precisamos expressar os valores da vida do Senhor que reside em nós.
O anseio de que os cristãos vivam a nova vida que possuem em Cristo ativamente - vida completamente diferente da forma que o mundo apresenta - levou Paulo a fazer essa veemente súplica: “Rogo, pois, irmãos”. É um caloroso chamado que seu zelo apostólico faz àqueles que nasceram de novo em Cristo Jesus. Escrevendo aos Gálatas, Paulo demonstrou o mesmo cuidado para aqueles que estavam sob seu pastoreio: “meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gálatas 4.19). A diligência pelos filhos espirituais o levava a desmedidos sacrifícios!
O que, agora, Paulo roga aos romanos é, justamente, em outras palavras, o mesmo que requereu dos Filipenses: “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, com uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica” (Filipenses 1.27). Os que já nasceram de novo, apesar de estarem unidos a Cristo por uma aliança eterna, precisam, entretanto, moldar ainda mais as suas vidas segundo aquilo que o Senhor quer encontrar neles: obediência total à sua vontade que é boa, agradável e perfeita.
Nós não alcançamos automaticamente o caráter perfeito e santo que vemos em Cristo Jesus, quando nascemos de novo. Alcançá-lo depende de uma disposição do nosso coração de efetivar aquilo que Deus reservou para fazermos. Há, conseqüentemente, uma carreira a correr e uma vitória a alcançar. Bem-aventurado é aquele que se propõem, consigo mesmo, chegar ao clímax que Paulo chegou ao dizer: “estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2.19,20).
Notemos que o rogar de Paulo é motivado por um fato muito forte e nobre. É “pelas misericórdias de Deus”. Nós sabemos que tudo que Deus fez, faz e fará por nós, provêm de sua misericórdia. Paulo coloca o termo no plural – “misericórdias” -, pois, elas são incontáveis e indizíveis. São inúmeras as misericórdias que recebemos de Deus, sendo que a maior delas é a nossa salvação eterna na pessoa de seu Filho. O sacrifício vivo, único e perfeito, realizado em nosso lugar, substituindo-nos, é o maior apelo que possamos ter, conclamando-nos a oferecer a Deus, também, um sacrifício vivo, santo e agradável dos nossos corpos, fazendo-lhe, perfeitamente, o que lhe agrada.
Se nós somos filhos de Deus, o somos pela sua compaixão para conosco. Dessa forma, devemos tomar para nós a exortação apostólica: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (I Pedro 1.14,15). Eis o perfeito sacrifício vivo que devemos fazer em resposta às “misericórdias de Deus”. Não há motivação maior para que vivamos a vida de santidade do que a gratidão que temos pelas misericórdias de Deus, que, diariamente vem ao nosso viver!
Paulo roga, entretanto, que, “pelas misericórdias de Deus”, apresentemos nossos corpos “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Certamente o Apóstolo está lembrando que na cruz foi feita a perfeita oferenda “Viva, santa e agradável a Deus” por todos nós. E Deus a aceitou pois foi feita pelo seu Filho. Assim como Jesus fez esse sacrifício por nós, devemos nós, também fazê-lo a Deus em gratidão ao que dele recebemos.
Que é apresentar o nosso corpo por sacrifício vivo?  Primeiro, afirmamos que Deus não deseja rituais, sacrifícios abstratos, místicos, sentimentais. O que ele quer é algo bem prático. Ele espera que apresentemos a nós mesmos diante dele, com atos concretos, práticas diárias e contínuo viver segundo a sua vontade. Sacrifício vivo é a oferta que se expressa com a vida -. Nessa mesma carta, Paulo já ensinou: “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte, mas se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Romanos 8.13).
Aqui está o sacrifício vivo que nos é pedido: “mortificar os feitos do corpo”. Isso significa que os atos que fazemos impulsionados por nossa carne e que não correspondem à vontade de Deus, devem ser dizimados e queimados no altar, diante dele. E, as cinzas que restarem, devem ser jogadas fora do arraial, como os israelitas faziam com as sobras sem valor dos animais sacrificados (Êxodo 29.14), ou seja, devemos retirar de nós todos os resíduos da velha vida que permanecem em nós e que nada mais significa para nós que vivemos, plenamente, a nova vida em Cristo.
Recordemos que toda a depravação da raça humana se expressa através do corpo. Vejamos como age o homem estranho a Deus: o seu cérebro – parte essencial do corpo – programa o mal que ele deseja executar; seus olhos vêem somente o que é impróprio; sua língua profere a mentira, o engano, a maledicência; os pés são rápidos em correr pelo mau caminho e as mãos apressam-se em ferir, agredir, apossar-se do que dos outros. Comandados pelo cérebro desvirtuado seus sentimentos e atitudes são, verdadeiramente, pecaminosos.
A santidade cristã, da mesma forma, se efetivar através dos membros do corpo em um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Isso começa com a mortificação dos atos que, em nós, são da natureza carnal, fazendo com que cada membro do corpo opere de acordo com os comandos do cérebro que se rege pela vontade de Deus.
Assim, a mente pensará com a sabedoria que lhe vem do Alto; a língua falará a verdade eterna e entoará louvores ao Senhor; os olhos estarão voltados para Jesus assimilando sua pureza e integridade; os pés se apressarão a andar pelos caminhos justos; as mãos irão abençoar e o coração se derramará em amor, até mesmo, para com os que maltratam, perseguem e fazem todo o mal.
È isso que significa “sacrifício vivo” – oferenda que expressa a vida de Cisto em nós! Também, jogar fora tudo o que não vem de Deus e valorizar tudo que dele vem a nós. Nessa mesma carta aos Romanos, 6.13, Paulo escreveu: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade, mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça”. Isso é culto racional a Deus!
A seguir, Paulo faz outro apelo necessário: “não vos conformeis com este século”. Saibamos que o século – o mundo – negligencia a vontade e o propósito que Deus tem para ele, buscando atender somente a seus próprios interesses humanos. É fácil, muito fácil, acomodar-se com o século – o mundo e seu sistema pecaminoso. Não é difícil acomodar a vida aos padrões do mundo. Quantos cristãos estão fazendo isso e tendo prazer em conformar-se com a vida dúbia que levam.
Há uma palavra de ordem que vem de Jesus: “Não vos assemelheis, pois, a eles” (Mateus 6.8). Não podemos nos acomodar à cultura predominante do mundo dos homens insubmissos a Deus e que o aborrece. Escutemos o que Paulo nos diz em Colossenses 3.1: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”.
“Transformai-vos”, é a chave que o texto apresenta para que possamos apresentar nossos corpos em sacrifício vivo a Deus. E essa transformação começa com a nossa mente. A transformação da mente é o ponto básico para que seja visível em nós a vida que Deus planejou para os que são seus, e que é visível na pessoa de seu Filho. Nossa mente precisa ser esvaziada de tudo que não provém de Deus e ser impregnada com tudo que dele procede. Essa é uma transformação que nos compete fazer.
O texto indica o que deve predominar em uma mente regenerada: “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Só uma mente restaurada pode discernir, obedecer e expressar a mente de Cristo. Os filhos de Deus precisam ter mentes totalmente conformadas aos padrões divinos, pois, um dia, quando menos esperarmos estaremos diante do Senhor que declarou ser “aquele que sonda mente e corações” (Apocalipse 2.23). Nossas mentes serão perscrutadas em seus mínimos detalhes, pois, é na nossa mente que elaboramos todo o bem ou todo o mal que praticamos.
Outra importante expressão do texto é: “para que experimenteis [...] qual seja [... a] vontade de Deus”. É uma riqueza espiritual valiosa, quando, por experiência própria, podemos provar a excelentemente boa, a extremamente agradável e a tão perfeita vontade de Deus para a nossa vida, pois, ela expressa o seu desejo de que sejamos exatamente como seu Filho é.
Nós temos recursos valiosos e acessíveis que nos ajudam a renovar nossa mente:
1. A Palavra de Deus. Uma mente cheia da Palavra direcionará toda a nossa vida mental, conseqüentemente, todo o nosso ser e o nosso fazer será moldado por ela. A palavra é a espada do Espírito que Efésios 6.17 indica como a arma preciosa em nossas lutas espirituais. Aconselhamos a todos lerem o salmo 119 e encontrarem nele a demonstração do que a Palavra é, e os inúmeros valores que ela possui, para a renovação da mente.
2. O Espírito Santo. Ele é a pessoa mais interessada em renovar nossa mente, pois, ele quer moldar em nós a mente do Senhor Jesus Cristo. A nossa mente, sob a graça e unção do Espírito, presidirá nossa vida interior pautando-a com a sabedoria do Alto. É o Espírito que leva a nossa mente a possuir, de forma ampla e nova, a visão de todas as realidades espirituais de Deus.
Ele nos faz, verdadeiramente, ser e agir dentro do que é esperado de nós como novas criaturas. Ele nos fortalece para que, realmente, estejamos vivendo como nascidos de novo em Cristo Jesus. É através dele que Deus cumpre a promessa de imprimir em nossas mentes as suas leis, conforme fala Jeremias 31.33. É ele quem guarda o nosso coração e mente em Cristo Jesus (Filipenses 4.7).
3. A oração. Ela sempre nos levará bem junto a Deus e, assim, dele recebermos força, auxílio e graça para uma total restauração mental. Quando oramos Deus edifica nossa mente e fortalece nosso espírito. Que a nossa súplica sempre seja: Renova, Senhor, a nossa mente para que te conheçamos mais e mais.
Quão tremendo é esse expressivo apelo que Paulo soube sintetizar em apenas dois versículos. Apelo que deve nos levar à experiência que precisamos, hoje, alcançar, ou seja, conhecer a grandeza da vontade de Deus para conosco. Deus não nos quer pequenos, pobres, inferiores. Ele nos quer levar “à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.13). Sua vontade, realmente, é de que sejamos seus filhos como seu Filho, Jesus Cristo é. Para isso ouçamos o apelo: “seguindo a verdade em amor cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4.15). Amém.


Erasmo Ungaretti

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